Águas Selvagens

O longa traz uma mistura de atores brasileiros, argentinos e uruguaios no seu elenco

Atraído pela promessa de um bom filme, por se tratar de uma produção entre Brasil e Argentina (duas escolas de cinema respeitáveis), fui assistir a Águas Selvagens (cujo nome original e divulgado na Argentina é “Água dos Porcos) e confesso que me decepcionei com alguns detalhes e alguns descuidos que pretendo discorrer aqui.

Roly Santos é um diretor e sociólogo argentino, premiado por Manos Unidas (2014) e que resolve comandar uma trama policial em que um investigador veterano das forças de segurança (Birindelli) resolve, relutando, aceitar decifrar o assassinato com requintes de crueldade de um homem poderoso numa pequena vila próxima à fronteira entre Brasil, Argentina e Uruguai. Carregando seus dramas pessoais, ele se depara com um intrincado esquema que envolve de prostituição à pedofilia e tráfico de pessoas.

Águas Selvagens
Roberto Birindelli em cena do filme

Águas Selvagens

Birindelli, sem dúvida, é o ator mais experiente em cena; apesar de sua atuação não ser destacada a ponto de rivalizar com os atuais grandes nomes da atuação cinematográfica argentina, ele carrega o ar taciturno e acabado bem ao tom neo-noir que vemos por lá.

No mais, há problemas: a começar pela identidade do longa. Como testemunhado pelo próprio diretor, o filme é considerado excessivamente brasileiro na Argentina, pela quantidade de atores e atrizes brasileirxs; e é considerado excessivamente argentino no Brasil, pois é falado quase inteiramente em espanhol. Assim, não há muita certeza da real intenção sobre qual público o filme se destina.

A despeito de um bom trabalho fonoaudiológico, já que brasileiros e brasileiras em cena mandam bem no sotaque e no idioma dos nossos vizinhos, sobra pouco além disso.

As atuações são também comprometidas pelos diálogos. Em vários momentos, não se acredita, por exemplo, que uma testemunha seja tão facilmente convencida a abrir seus segredos a partir de interrogatórios tão sem vida e sem punch.

Águas Selvagens
Mayana Neiva é uma das atrizes brasileiras no longa

E tem mais…

Há problemas de som, em adição a tudo isso: cortes sonoros (que quero acreditar estavam presentes apenas na cópia que assisti, de tão amadores) jogam contra uma seleção de áudios incidentais corretos, porém discretos e um pouco repetitivos.

Quero relatar aqui o apoio a certas soluções batidas de roteiro: como exemplo, a saída encontrada para que um dos personagens possa decidir qual companhia terá para escapar da cidadezinha onde se enfiou, que eu já vi em mais de trezentos filmes, pelo menos. Também me parece batido o acaso contido no fato da trama em que se envolve o personagem principal ser conectada com os aparentes problemas pessoais do próprio, a despeito de algumas reviravoltas durante a narrativa para tentar surpreender o público: mas, mesmo aí, já cansado de alguns problemas que já tinha visto na execução da obra, esses plot twists não me impressionaram. Um diretor mais experiente poderia conduzir melhor a intenção original: discutir temas difíceis e posturas individuais duvidosas e
aproximá-los do cotidiano, como se estivessem mais próximos de nós do que imaginamos.

No geral, eu não gostei do resultado. Saio decepcionado, pois esperava bem mais.

Nota: 4/10

Por Marcelo Barreto

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