Quem Vai Ficar com Mário? é uma produção idealizada pelo por Pedro Rovai (1938 – 2018) e é uma versão adaptada da comédia italiana “O Primeiro Que Disse”, que trata sobre homossexualidade com reverência e um toque de acidez no discurso.
O termo “raise the bar” nunca fez tanto sentido como nesse longa-metragem onde Hsu Chien, o diretor do filme, conseguiu com maestria fazer uma adaptação totalmente focada no público brasileiro e repleta de glamour.
Este é um filme divertido que, ao mesmo tempo, se posiciona sobre temas pertinentes como a orientação e identidade sexual, mas também o feminismo e a capacidade de cada indivíduo, isentando rótulos.
Quem vai ficar com Mário?
Logo na primeira cena, a coach Ana chega na cidade e, ao estacionar seu carro, risca um cartaz que exibia a frase: Lugar de Mulher é na Cozinha – trocando por – “É onde ela quiser”, e esse discurso a acompanha durante todo o filme por querer mostrar seu valor e auxiliar outras mulheres, como por exemplo, Bianca (Elisa Pinheiro), filha do dono da cervejaria onde Ana traz uma proposta de upgrade gerencial, a se firmar como empresária.
Temos também outros personagens marcantes e interessantes como a trupe “A Terceira Força” formada pelo namorado de Mário, Fernando, um produtor teatral interpretado por Felipe Abib, Lana (Nany People), e seus dois grandes amigos que formam um grupo teatral onde Mário e Fernando dirigem um espetáculo. Juntos eles apimentam o discurso e trazem o humor necessário para a trama.
Casos de família
Mário é de família sulista, tem um pai muito conservador, machista e com uma certa falta de tato para temas polêmicos, daqueles que fazem piadas homofóbicas, mas sem intenção de causar sofrimento em alguém, simplesmente porque foi assim que foi criado e aprendeu seus costumes e tradições. Mário é homossexual e se prepara para contar para família que mora com o namorado, quando seu irmão Vicente (Rômulo Arantes), o ultrapassa e fala a mesma coisa para seus pais…
Uma das tradições familiares é a cervejaria que o pai quer que seu filho mais velho, Vicente , fique à frente dos negócios mas, ao anteceder Mário e contar para a família que é homossexual, seu pai o “deserda”. Como a próxima filha é mulher, e ele, só por isso, não leva em consideração o diploma e os conhecimentos de Bianca, só resta Mário, que fará de tudo pra agradar seu pai…
Em uma história sobre o auto conhecimento, Mário acaba “entre a cruz e a espada” quando se percebe talvez interessado por Ana, a coach que trouxe ideias revolucionárias para a Bruderlich, cervejaria conceituada e tradicional da cidade.
Com quem o Mário quer ficar?
Esse é o plot twist, será que Mário escolherá ficar com a Ana, ou assumirá para a família que seu grande amor é Fernando?
Com um discurso muitas vezes propositadamente homofóbico, machista, e forte, o longa-metragem escolhe provocar o espectador para refletir sobre conceitos que devem ser encarados com normalidade e dá nome aos bois pra que cada um se identifique, reveja seus conceitos de uma forma divertida e super bonita.
Hsu Chien é um diretor extremamente detalhista e preocupado com o que o espectador pode entender de seu filme, então ele aceitou as sugestões dadas por Nany People e fez alterações, inclusive incluindo a música “O menino e o Espelho” para ela interpretar de forma lúdica e muito bela. Essa música foi escrita em co-autoria com o próprio Hsu que se identifica com o tema por ser LGBTQIA+.
Aspectos técnicos de Quem Vai Ficar Com Mário?
Uma das perguntas feitas na coletiva de imprensa era exatamente sobre elenco, o por quê da escolha de Daniel Rocha como Mário, já que ele não é homossexual. Hsu respondeu que o desenho dos personagens já estava ligado a com quem ele gostaria de trabalhar, que escolheu a dedo cada um deles por boas experiências e interpretações que ele assistiu no teatro.
Por ter vários membros da comunidade LGBTQIA+ na equipe técnica e a presença de Nany no elenco, ele não achou necessário contar essa história com atores que se identificassem no gênero, mas sim que fizessem uma excelente interpretação e foi exatamente o que ocorreu. Nessa trama, ninguém fica de escanteio e os coadjuvantes são importantes na narrativa para que o discurso se mantenha e seja forte em identidade.
Hsu também é o tipo de diretor que se atenta à fotografia e à trilha sonora como fatores importantíssimos para se contar uma história. A escolha de cores e tons para as cenas mostra uma bela direção de fotografia, ao mesmo tempo em que músicas como “Lança Perfume” começam a tocar no momento exato! Ana e Mário estabelecem uma conexão, rola aquela química e, logo em seguida entra “Um Certo Alguém” selando essa relação, despertando um sentimento…
Outra música importante, que também é Nany quem interpreta maravilhosamente, escolhida por Kika, a produtora, em homenagem ao saudoso Pedro Rovai é “La Vie En Rose”, para dizer o quanto é bonita essa história adaptada e idealizada por ele.
Quem Vai Ficar com Mário? realmente um longa metragem que aquece o coração, que pode ser visto em família, entre amigos, ou sozinho, e que todo mundo vai gostar!