Meu Pai – Oscar de melhor roteiro adaptado e mais

Meu Pai traz a relação de Anthony (Anthony Hopkins) e sua filha, Anne (Olivia Colman). Ele, que já tem seus 81 anos, vive sozinho em um apartamento em Londres, e recusa a ajuda de enfermeiros e cuidadores que Anne tenta lhe impor.

Ela resolve se mudar para Paris com seu companheiro mas, surge, então, um impasse. Como o pai ficará completamente sozinho? Ao mesmo tempo, o homem passa a ter dúvidas em relação ao amor da filha e também de sua própria sanidade. Afinal, fatos bem estanhos começam a ocorrer.

Primeiramente, um desconhecido diz que aquele é o seu próprio apartamento. Além disso, Anne vive se contradizendo e nada mais faz sentido na cabeça de Anthony. Estaria ele enlouquecendo, ou seria um plano de sua filha para o tirar de casa?

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Anthony Hopkins em cena do filme Meu Pai

Meu Pai

O filme tem pouquíssimas cenas externas, mas ainda assim nos sentimos em Londres, dentro deste apartamento onde praticamente toda a trama se passa. Anthony, este senhor de 81 anos, está claramente chegando em um ponto onde a senilidade traz esquecimento, confusão e mudanças bruscas de humor.

Imaginando diálogos dentro de diálogos (vivenciando-os pelo menos em sua própria cabeça), Anthony Hopkins consegue constantemente nos transmitir seus sentimentos e confusões. Sua interpretação é perfeita e, junto da maravilhosa Olivia Colman, também faz com que indaguemos como é, para essa filha, suportar as reações imprevisíveis do pai.

A trama de Meu Pai é, dessa forma, bem real, firme, sólida e pode tocar os corações de todos os espectadores, até mesmo aqueles que nunca tiveram que cuidar de alguém com Alzheimer. Acredito que o título poderia ter ficado como no original “O Pai”, pois abrangeria ainda mais público, afinal, pode ser o pai de qualquer um de nós.

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Olivia Colman é Anne

Ganhador de Oscars

Nas palavras de Florian Zeller, o diretor estreante, o filme é como “uma espécie de suspense, que convida o público a construir a narrativa, como eu fiz no teatro. Eu queria que o público se sentisse próximo aos personagens.” Na adaptação de sua própria peça, ele aponta que “o cinema e o teatro nos lembram que somos parte de algo maior que nós mesmos. Apesar das qualidades labirínticas do original, há uma sensação de alegria na peça que eu queria manter no filme.

Christopher Hampton, o roteirista que adaptou a peça, explica que “Meu Pai procura formas artísticas de apresentar como a demência afeta as pessoas ao redor do paciente – aqueles que sofrem os efeitos disso. E gosto de ressaltar que o roteiro também é divertido.” Apesar das confusões, gostamos de ver os personagens na tela, sentir o que eles sentem, e é possível sim se divertir com as divagações do senhorzinho.

Meu Pai concorreu ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Anthony Hopkins), Melhor Atriz Coadjuvante (Olivia Colman), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Design de Produção. E concordo que foi indicado de forma justa. As atuações, a trama, a edição e a direção de arte são impecáveis para nos trazer esta história. No fim, acabou levando as estatuetas de Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado.

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Rufus Sewell também está no elenco

Anthony fazendo outro Anthony

Para o diretor ZellerHopkins sempre foi a primeira opção de ator para o papel-central na adaptação de sua peça para o cinema. No teatro, o papel já foi interpretado por Robert HirschFrank Langella, e Fulvio Stefanini, no Brasil. “Eu tinha a profunda certeza de que Hopkins seria poderoso e devastador no papel.” E acertou em cheio.

O ator confessou que ficou lisonjeado pelo convite. “Foi maravilhoso saber que escreveram o roteiro me imaginando como o personagem. Nesse caso, foi uma honra. E trabalhar nesse filme me fez pensar em minha própria mortalidade. Foi muito divertido, no set, memorizar as conversas e diálogos. De certa forma, quando as câmeras estavam rodando, nem precisava atuar.

Digo que o filme é muito próximo da vida real porque, assim como todos nós, a filha de Anthony precisa seguir com a sua própria vida. Ela precisa tomar decisões importantes para conseguir seguir seu momento. Cuidar do pai faz parte das suas atividades, mas agora ela precisa dar um passo maior, já que ele vive mandando embora as cuidadoras que ela contrata. É aquela troca de papéis que sempre tememos, onde o filho se torna o cuidador e o pai ou mãe, aquele que depende de cuidados.

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Momento descontraído entrevistando a nova curadora
Um drama com toques de humor

Para nos mostrar como funciona a mente de alguém com a doença de Alzheimer, a direção de arte faz uma série de pequenas mudanças de cenário, quase imperceptíveis. Além disso, o roteiro nos coloca dentro da cabeça do personagem o tempo todo.

Por isso, este é um filme que traz uma sensação de desconforto no início, mas que vira um mergulho sensorial quando você entende o que aquelas mudanças querem nos transmitir. Além de que é sempre bom ver nosso querido “Hannibal Lecter” em tela. Mesmo anos depois de interpretar seu mais famoso psiquiatra canibal, Hopkins consegue atuar em diferentes papéis e nos arrancar sorrisos.

Veri Luna

Formada em Pedagogia e Audiovisual, gosta mesmo é de revisar os textos, assistir bons filmes, brincar com os bichinhos, dançar e fazer umas artes de vez em quando.

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