O Auto da Boa Mentira é uma história irônica com base em frases clássicas de encontros com Ariano Suassuna.
São quatro curtos contos criados a partir de falas do poeta paraibano, que vivia no Recife. Sabe aqueles “causos”, aquelas pessoas que gostam de contar histórias? Ariano Suassuna tinha essa fama e, onde podia, contava algo que ocorrera com ele.
Antes de mais nada, saiba que o “Auto” é uma composição teatral que surgiu na Espanha em meados do século XII. Composto por um único ato que transita entre o religioso e o profano, suas personagens alegóricas simbolizam as virtudes e os pecados. Dessa forma, aqui nessas quatro histórias, vemos um misto de auto com esquetes bem estruturadas.
Se vocês gostavam de “A Vida Como Ela É” seriado de televisão dos anos 1990 baseado em contos tragicômicos de Nelson Rodrigues, ou então se encantou e riu muito com o livro “As Mentiras que os Homens Contam” de Luís Fernando Verissimo, esse filme certamente será um tremendo deleite.
A produção tem direção de José Eduardo Belmonte (‘Carcereiros: O Filme’ e ‘Entre Idas e Vindas’), com roteiro de João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto. O lançamento do filme nos cinemas foi em 29 de abril de 2021 mas, em breve, estará disponível também em plataformas digitais.
O Auto da Boa Mentira: as histórias
Fama
Helder (Leandro Hassum), um gerente de RH é, na linguagem popular, um “zero à esquerda” ou um “zé ninguém” que não chama atenção. Ele se inscreve em uma convenção de RH que acontece em um grande hotel e acaba sendo confundido com um comediante de sucesso que iria se apresentar em um pocket show nesse mesmo hotel.
Helder passa então a gostar do mal-entendido e se vangloriar pela situação que poderia ser constrangedora mas, até então, ele só via regalias. Um encontro inesperado com Caetana (Nanda Costa), uma suposta grande fã do comediante, pode fazê-lo mudar de opinião. Mas, já diz o ditado, há males que vem para bem né? Ou não…
Vidente
Fabiano, interpretado por Renato Góes, é um jovem que não acredita em nada, mas fica intrigado quando ouve uma história circense contada por um sujeito estranho na rua, que diz conhecê-lo e saber quem são sua mãe (Cássia Kis) e seu pai – morto há anos. Será que seu pai está vivo? Quem ele pensa ser seu pai, é realmente quem sua mãe diz ser?
Ele precisará da ajuda do palhaço Romeu (Jackson Antunes) para desvendar esse assunto mas, ao mesmo tempo, ter cuidado para não ser feito de palhaço! Nos dias de hoje dizem: O golpe tá aí, cai quem quer… Será que essa frase se aplica ao Fabiano?
Furão
O terceiro conto se passa no Rio de Janeiro entre bares do Vidigal, onde Pierce (Chris Mason, de ‘Pretty Little Liars’) é um gringo metido a carioca, que trabalha como guia turístico levando outros gringos pra conhecer a comunidade. Ele inventa para seu amigo, Zeca (Sérjão Loroza), dono do bar onde ele costuma levar seus clientes, que aconteceu um assalto e, por isso, faltou ao aniversário do amigo.
O tal gringo só não imaginava que a mentira poderia chegar ao chefe do tráfico (Jesuíta Barbosa) que tem um jeito meio peculiar de tratar as situações envolvendo os colegas do Morro.
Disney
A última história brinca com uma frase de Suassuna sobre o preconceito sofrido por quem nunca foi à Disney… A estagiária Lorena (Cacá Ottoni) se sente invisível na empresa de publicidade de Norberto (Luis Miranda), e vive se imaginando com Felipe (Johnny Massaro).
Lorena decide aparecer em uma festa da firma realizada na cobertura do dono da agência e, para conseguir entrar nas rodinhas de conversa, inventa coisas sobre si. A partir daí o mal entendido cria pernas. E para se desenroscar disso tudo e explicar o papelão depois de ter tomado algumas taças de champanhe? Imagine só o perrengue da garota…
Definitivamente, essas são divertidas esquetes de humor trágico que brincam com situações que podem acontecer com qualquer um. Em cada momento, aparecem imagens de Ariano Suassuna falando as frases que inspiraram os autores a escrever as comoventes e engraçadas histórias.
Vale a pena conferir, mas não confundir com O Auto da Compadecida, também de Suassuna, já que são tipos de humor e formatos diferentes de se contar histórias.
Por Giovanna Landucci