Veja se você concorda comigo: histórias que se passam em instituições mentais tendem a ser tristes. Certo? Não é diferente com Um Estranho no Ninho, que apareceu para mim primeiramente como um filme. Certamente, eu não tinha como não adorar: Jack Nicholson, sensacional como sempre, num filme de Milos Forman, um diretor que admiro demais.
O livro publicado em 1962 relata a história de R.P. McMurphy, um malandro que é preso por estupro. Para fugir dos trabalhos impostos na prisão, ele se finge de louco e acaba sendo transferido para a ala dos agudos e crônicos de um hospital psiquiátrico. O que inspirou Ken Kesey a escrever o romance foram as suas experiências em pesquisas com drogas psicoativas no hospital em que trabalhou.
A narração é do Chefe Bromden, um índio do Colorado que está internado como indigente e que todos acreditam ser surdo e mudo. Na verdade, por não ter o direito de simplesmente ser indígena (ser ele mesmo) fez calar a voz de Bromden. Assim, ele resolve somente ouvir tudo ao seu redor, o que faz com que sua presença seja ignorada. Sendo assim, ele já escutou muitos segredos e confidências.
“Eu tinha de continuar fingindo que era surdo, se quisesse continuar a ouvir”.
A narrativa de Bromden é um pouco torta e deturpada, afinal não é à toa que ele está num hospício. Sua realidade está sob uma densa neblina, que ele acredita ser colocada de propósito pela “Liga”: os donos do hospital. Mas principalmente pela enfermeira Chefona, Mildred Ratched, principal rival de McMurphy.
Assim, quando chega no hospício, McMurphy abala as estruturas e bagunça a rotina dos internos com seu jeito espertalhão. Ele passa horas provocando a enfermeira durona e fazendo apostas com os outros crônicos e agudos. Entre devaneios e realidade, conhecemos a personalidade de cada um dos internos pelos olhos de Bromden. Dessa forma, vamos nos afeiçoando a esses homens, que passam de loucos tristes e acomodados a insanos lutadores e ativistas. Com o incentivo de McMurphy, claro.
Um Estranho no Ninho – livro e filme
O livro trata das mudanças de rotina, com a inserção de um indivíduo questionador. McMurphy não aceita que os pacientes vivam sob regime autoritário de uma enfermeira em sua zona de conforto. Afinal, ela tem todos sob seu comando há anos. Sua autoridade era maior até que dos médicos! Surpreendentemente, eles sempre esperavam suas ordens para tomar decisões.
McMurphy chega para mudar isso. Ele faz os internos questionarem seus diagnósticos e imporem suas opiniões (sempre reprimidas), tendo na figura dele um grande apoiador. Ratched, a enfermeira, não desce do salto e encara McMurphy de frente sempre sem mudar sua calma expressão no rosto.
Para o filme, escolheram Jack Nicholson e isso não agradou muito o autor, que preferia Gene Hackman no papel de McMurphy. Mas a academia e os espectadores ficaram encantados! O filme é um dos três que já ganharam os Oscars nas cinco categorias principais: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro, melhor ator e melhor atriz, ao lado de Aconteceu Naquela Noite (1934) e O Silêncio dos Inocentes (1990).
Com um elenco desse…
Os nomes são de peso: Brad Dourif, conhecido por Veludo Azul, Star Trek e por fazer a voz de Chucky em O Brinquedo Assassino; Sydney Lassick, que atuou em Carrie, a Estranha; Vincent Schiavelli, com seus olhos caídos, conhecido por Picardias Estudantis; Danny DeVito, nosso querido Pinguim de Batman: O Retorno; Louise Fletcher, que ganhou o Oscar de Atriz Coadjuvante pelo seu papel como a enfermeira sádica; o já citado Jack Nicholson, eterno Coringa de Batman, Chinatown, o Jack Torrance de O Iluminado, As Bruxas de Eastwick, entre muitos outros papéis loucos. Não podemos esquecer de Christopher Lloyd, nosso amado Doc de De Volta para o Futuro, e o Tio Chico (Fester) de A Família Addams; e Scatman Crothers, que atuou com Jack Nicholson anos depois em O Iluminado.
O diretor, Milos Forman, é responsável por quatro dos meus filmes favoritos! Um Estranho no Ninho (1975), Hair (1979), Amadeus (1984) e O Mundo de Andy (1999). Ele ganhou dois Oscars (por Um Estranho no Ninho e por Amadeus) e foi indicado por O Povo Contra Larry Flint (1996), além de muitos outros prêmios.
Você já conhecia essa história de Um Estranho no Ninho? Já assistiu ao filme ou leu o livro? O meu livro eu confesso que comprei num sebo, ô coisa boa… adoro! Ah, e a Netflix fez uma série “spin off” sobre a enfermeira Ratched, que eu ainda não conferi. E você? Tem algo a acrescentar sobre essa trama?