Os Diários de Franz Kafka poderiam nos inspirar a criar uma espécie de organização, como o fã clube do grupo de rock norte-americano: KISS. Formaríamos então o KAFKA ARMY. Pois somos milhões de fãs vivendo neste planetinha maravilhoso, perigoso, misterioso, secreto. E mais ainda, somos também milhões e milhões que vivem em situações kafkianas, sem qualquer consciência disto.
Sofrendo acusações infundadas, transitórias, das quais não temos como nos defender, que nos transformam em insetos pavorosos a cada manhã de sonhos intranquilos. Inocentes perdidos em grandes cidades, sendo trapaceados, incontáveis vezes em curtíssimos períodos de tempo, sem nem ao menos ter a menor noção de quem, como ou de que forma, estamos sempre sendo tolos novamente.
Quem são os fãs de Franz Kafka?
Somos os indivíduos metidos em mal entendidos com nossos pais, nosso familiares. Vivendo como em um pesadelo complexo e sem qualquer previsão de final. Bem mais que uma corporação, somos um exército. Gigantes como o poderio militar das nações. Somos um universo. Talvez, O universo!! Presos a enredos que não nos deixam voar, que nos impedem de criar, de ser quem somos, que nos transformam em moscas refreadas, com as asas umedecidas, embebidas pelo mel da sobrevivência que temos que buscar, que é, de fato, a essência das nossas vidas.
Franz Kafka, canceriano, portanto, reforçando os estereótipos pertinente a este signo astrológico, poderia, em uma análise superficial, ser considerado equivocadamente um “Drama king!!” Sim, o rei do drama, o rei da lamentação. Em seus diários, não são poucas as entradas, através dos anos, em que nos é mostrado o quanto ele lamenta não ter tempo para produzir seu trabalho literário, que rivaliza com suas ocupações profissionais, muito embora, ele não seja proveniente de uma família paupérrima. O desinteresse literário de algumas pessoas que o
cercam, que muitas vezes são amadas por ele, de forma bastante controversa, também é reiteradamente presente.
De modo muito amargo, ainda que inquestionável e apaixonado, com uma dor que não cabe neste mundo, na entrada do dia 21/08/1913 ele escreve o rascunho de uma carta que intenciona enviar aos pais de sua namorada: “Tudo que não é literatura me entedia e eu detesto…”
O rei do drama
“Não cedo em nada minhas exigências de uma vida de fantasia, pensada apenas para meu trabalho; ela, surda a todas as minhas súplicas mudas, deseja a mediocridade, a casa confortável, quer meu interesse voltado exclusivamente para a fábrica, comida farta, ir dormir às onze da noite, o quarto aquecido…” anota ele, em referência a sua amada Felice Bauer, anos mais tarde, na data de 24/01/1915. Sentimentos que muitos de nós, tantos anos depois, reconhecemos com facilidade.
Fico com a pergunta, evidente, sobre o quanto e com que excelente deleite, poderíamos apreciar hoje a obra de alguém tão incrível quanto František Kafka, se ele tivesse tido a sorte de não precisar ter ocupações outras, para viver de forma aceitável? Certamente teríamos mais obras completas, visto que muitos de seus trabalhos foram publicados após sua morte, não concluídos, e sem a concordância do autor. Há um kafkiano litígio por seus manuscritos, que envolvem os herdeiros de Max Brod, seu amigo e homem que salvou seus manuscritos da destruição, e a Biblioteca Nacional de Israel.
Franz Kafka morreu aos 40 anos.
Por Fábio Luís Minhão
Paulistano que curte Rock Inglês e não somente. Mora sozinho em Desalento, bairro da zona sul da capital, convivendo bem com um certo grau de esquizofrenia paranoide. Gosta de literatura e vive o pesadelo do ar condicionado, trabalha num escritório burocrático da administração pública do Estado de São Paulo. É escorpiano e tem 49 anos.